O trocanter é uma estrutura que faz parte da peça óssea do fêmur, ou seja, não se trata de um osso independente, mas uma protuberância na extremidade do fêmur, localizada próximo do quadril.
A anatomia do quadril é bastante complexa, assim como sua mecânica, que envolve diversas direções de movimento e diversas rotações, por se tratar de um sistema complexo, faz-se necessário compreender melhor sobre as estruturas envolvidas.
O quadril é composto, basicamente, pelos músculos glúteos e músculo piriforme, ligamentos, estruturas ósseas – inclusive o trocanter – e bursas. São encontradas no quadril cerca de 3 a 4 bursas, a saber: iliopectínea, isquioglútea e a trocantérica, esta última é a bursa localizada na superfície do trocanter maior.
As bursas trocantéricas são as estruturas que receberão maior foco neste artigo, uma vez que a bursite trocantérica se relaciona diretamente com tal estrutura. Além disso, o presente artigo buscar-se-á introduzir a respeito das causas, dos sintomas e os tratamentos para esta afecção.
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O que é bursite trocantérica?
Bursas são bolsas que contém líquido gelatinoso no seu interior, se localizam entre os tendões e os ossos e têm como função a redução de atrito causado pela movimentação e locomoção, isto é, funciona como amortecedor. O fluído contido nas bursas são responsáveis pela lubrificação, facilitando assim o deslizamento entre as estruturas relacionadas com o movimento, neste caso, da região do quadril.
As bursas trocantéricas, por sua vez, são encontradas na região do quadril, mais especificamente abaixo do trocanter. Vale lembrar que o trocanter é uma proeminência no topo do fêmur, o qual se encaixa na bacia. Sabendo disso, é possível compreender do que se trata a bursite trocantérica, consiste na inflamação da bursa trocantérica devido a algum fator causal.
Acomete mais às mulheres que se encontram entre as idades de 30 a 50 anos e aos atletas, principalmente os corredores.
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Causas da bursite trocantérica
A etiopatologia da bursite trocantérica envolve fatores externos e fatores de risco. Dentre os fatores externos que contribuem com a inflamação estão os microtraumas ocasionados devido a uma repetição de impacto, podendo ser devido ao uso excessivo dos músculos do quadril que se relacionam com a região do trocanter.
O uso excessivo destes músculos sobrecarrega a biodinâmica, alterando assim a mecânica do grupo musculoesquelético do quadril, esta alteração causa também a alteração do funcionamento das bursas, produzindo mais fluido e, portanto, chegando ao processo inflamatório.
O esforço ou estresse repetitivo, também chamado no termo inglês de “overuse”, acontece na subida de escadas com muita frequência, durante corridas, durante caminhadas longas e frequentes, ao pedalar com periodicidade curta ou mesmo ao permanecer em pé por tempo muito prolongado.
Porém, vale ressaltar que estas atividades citadas acima para se tornarem fatores causais da síndrome, dependerá da frequência, constância e da maneira como são realizadas.
Outro fator que pode desenvolver a bursite trocantérica são as lesões causadas por um evento traumático, isto é, quedas, pancadas, acidentes, etc. No entanto, a maioria dos pacientes não se recorda de nenhum evento que possa estar relacionado à agravante.
Estas lesões não são comumente recordadas, pois podem acontecer durante o dia-a-dia, por exemplo, bater o quadril na porta, na mesa, na porta do carro, deitar sobre um lado apenas por tempo prolongado.
Os fatores de risco envolvidos com a síndrome incluem o histórico de doenças musculoesqueléticas, como artrite, patologias na coluna, discrepância do tamanho das pernas, doenças reumatológicas, osteoartrose, entre outras.
Além das doenças supracitadas, também se relacionam como fatores de risco, a presença de patologias de cunho psicológico ou emocional, como fibriomialgia e obesidade.
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Sintomas da bursite trocantérica
O principal sinal do quadro clínico da bursite trocantérica é a dor na lateral do quadril, facilmente indicada com a ponta do dedo pelo paciente, a dor pode irradiar para a coxa e panturrilha, devido à alteração no modo de movimentar-se, forçando assim o músculo da coxa e panturrilha, esta dor secundária é, portanto, um reflexo adaptativo que passa a ser considerado um sintoma da própria síndrome.
A dor pode ser intensificada durante a noite e quando o paciente permanece por muito tempo na mesma posição ou em pé. A bursite trocantérica pode afetar o sono, não como um sintoma específico, mas sim como uma consequência da dificuldade em encontrar posição agradável para dormir devido à dor.
Para fins diagnósticos, o médico avalia os sintomas relatados pelo paciente, bem como o histórico de doenças relacionadas, de eventos antecessores, além disso, o médico realiza exame clínico apalpando a região do quadril, estando o paciente deitado com a lateral afetada voltada para o médico.
Exames complementares podem ser necessários para a investigação de lesões mais graves ou patologias em outras estruturas. Nestes casos são realizados exames laboratoriais e de imagem, como radiografia, tomografia ou ressonância magnética.
Uma vez concluídos os exames e o diagnóstico sendo instituído como de bursite trocantérica, é preciso iniciar o tratamento.
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Tratamento da bursite trocantérica
Nem toda intervenção terapêutica de bursite trocantérica envolve procedimentos cirúrgicos, na verdade, muitos pacientes percebem melhora relevante apenas com algumas mudanças de hábitos e adoção de medidas, veja a lista abaixo que contém algumas atitudes simples que auxiliam na melhora do quadro clínico do paciente acometido:
-Evitar atividades com potencial de piora dos sintomas: como caminhar, correr, subir escadas, permanecer em pé;
-Utilização de um apoio: bengalas, muletas ou quaisquer formas de apoio auxiliam evitando a sobrecarga da outra perna;
-Evitar cruzar as pernas: enquanto a bursa está inflamada, é preciso evitar cruzar as pernas, pois esta posição pode friccionar tal estrutura contra o trocanter, o que ocorre é que a bursa possui nervos no seu interior, por isso quando inflamada ao ser pressionada causa dor e incômodo;
-Perder peso: a obesidade ou o excesso de peso em relação à força que a pessoa tem para sustentar a si mesma influencia na piora dos sintomas, por isso, é importante mudar os hábitos em relação à alimentação, sedentarismo e fatores estressantes;
-Repouso na fase aguda: durante o período em que a inflamação da bursa trocantérica ainda não está totalmente resolvida, é preciso manter-se em repouso;
-Compressa de gelo: realizar compressas de gel gelado ou mesmo com cubos de gelo auxilia no alívio da dor. É recomendado proceder três vezes ao dia, aplicando na região acometida durante cerca de quinze minutos, mantendo cautela para não lesionar a pele.
Além destas medidas iniciais, o tratamento da bursite trocantérica inclui a administração de anti-inflamatório oral durante aproximadamente um mês e meio a dois meses, este tempo de administração deverá ser definido de acordo com fatores como idade, resposta ao tratamento, presença de fatores de risco, etc.
Se o tratamento oral não apresentar respostas esperadas, indica-se a alteração do tratamento, podendo passar a administrar via injetável local de corticóide e substância anestésica, por exemplo, a lidocaína. Esta intervenção costuma apresentar resultados com baixa reincidência e sem complicações recorrentes, salvo alguns efeitos colaterais, como abscessos, lesões nervosas, atrofia cutânea e inflamações por macrófagos.
Somente em casos que não responderam bem nem ao tratamento via oral, tampouco ao tratamento de infiltração, recorre-se à intervenção cirúrgica. Esta intervenção pode ser através da bursectomia, que consiste na incisão lateral para a retirada da bursa problemática, ou através da artroscopia, que é menos invasiva, realizando apenas duas microincisões endoscópicas. A artroscopia causa menos efeitos adversos e sua recuperação é mais rápida e confortável, porém, em alguns casos pode ser necessário realizar a incisão aberta.
Além dos tratamentos medicamentosos ou cirúrgicos, faz-se necessário o tratamento de recuperação, isto é, a fisioterapia, pois esta terapêutica proporciona reabilitação, alongamento, fortalecimento das estruturas do quadril, correção da dinâmica do movimento, utilização de temperatura para tratamento, enfim, a fisioterapia contribui tanto para a recuperação como também com a prevenção de reincidência.
O retorno às atividades normais do dia-a-dia deve ser gradual e orientado pelo médico, assim como o retorno aos treinos desportivos nos casos de atletas e ao exercício físico, que é de suma importância para a preservação da saúde, inclusive do bom funcionamento da biodinâmica do quadril, porém, toda atividade física deve ser orientada por profissional capacitado, sobretudo em caso de paciente pós cirúrgico e com histórico de bursite trocantérica.
Conclusão
O funcionamento do corpo humano depende do funcionamento equilibrado de todos seus sistemas, assim, um fator que entra em desequilíbrio, afeta diferentes estruturas, resultando em uma queda na qualidade de vida, incômodo, dores. É o caso da bursite trocantérica, quando há excesso ou repetição motora, ou o excesso de peso, ou mesmo o sedentarismo que enfraquece as estruturas que sustentam o quadril, as bursas respondem com a inflamação.
Dessa forma, pode-se entender a bursite trocantérica como um problema resultante de diversos fatores de risco que denotam falhas, bem como fatores causais, que seriam as lesões, traumas, impactos, uso repetitivo ou excessivo.
Portanto, é preciso que além do tratamento direto ao problema instalado, ou seja, administração medicamentosa, por infiltração ou cirúrgica e realização de fisioterapia, haja também a manutenção e a prevenção da saúde como um todo, pois até mesmo o excesso de atividade física pode ser prejudicial.
Médico formado pela Santa Casa de São Paulo, com Residência Médica em Medicina Física e Reabilitação (Fisiatria) pela Universidade de São Paulo. Doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no Departamento de Neurologia. Especialização em Acupuntura Médica pelo Centro de Estudo Integrado de Medicina Chinesa (CEIMEC), e Área de Atuação em Dor pela Universidade de São Paulo. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA). Ex-Diretor do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Membro da Câmara Técnica de Acupuntura do CREMESP. Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).
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