4 coisas que você pode fazer para evitar interações medicamentosas

Cada medicação que você usa pode afetar o modo como outras medicações atuam, acarretando efeitos colaterais e complicações danosas.

 

Você toma mais de uma medicação? Está usando alguns tipos diferentes de medicação? Tem se consultado com vários médicos? Se a resposta for sim, você pode estar exposto a um risco aumentado de interações medicamentosas, as quais ocorrem quando um fármaco, suplemento ou até um alimento afetam o modo como o seu corpo processa uma medicação. Interações deste tipo podem aumentar a potência de um fármaco—de modo que uma dose padrão se transforma em superdosagem—mas também podem tornar o fármaco menos potente ou totalmente ineficaz.

“É essencial que as pessoas aprendam sobre as medicações que usam e passem a ter consciência de suas respostas a estas substâncias”, diz a Dra. Shobha Phansalkar, professora-assistente de Medicina na Harvard Medical School, cuja pesquisa está centrada na exploração de meios que permitam às pessoas administrarem melhor suas medicações, para evitar efeitos colaterais.

 

Como se dão as interações medicamentosas 

O termo “interações medicamentosas” é algo confuso. No corpo, os fármacos não se combinam para produzirem reações químicas. Em vez disto, um fármaco, suplemento ou alimento podem afetar o tempo de permanência de uma dada medicação no corpo, muitas vezes estimulando ou inibindo a produção de enzimas específicas no fígado ou intestino. Estas enzimas fazem parte do sistema do citocromo p45, que exerce papel importante na metabolização de numerosas medicações. Usualmente, as interações medicamentosas ocorrem das seguintes maneiras:

Interações com outros fármacos. As interações entre dois fármacos ocorrem quando um fármaco afeta a enzima citocromo que processa o outro. Exemplificando, o antibiótico metronidazol (Flagyl) inibe a enzima CYP2C, que quebra a warfarina (Coumadin). Se as duas medicações forem usadas ao mesmo tempo, o sangue mais fino pode fluir mais devagar pelo corpo, aumentando o risco de sangramento grave. O fármaco anticonvulsivo fenitonína (Dilantina) estimula a produção excessiva de CYP3A4, enzima que metaboliza estradiol, um componente de anticoncepcionais de dose baixa. Neste caso, os anticoncepcionais são depurados mais rapidamente nas mulheres que usam fenitoína, diminuindo sua efetividade e aumentando a chance de gravidez não planejada.

Em outros casos, dois fármacos tomados juntos para diferentes propósitos podem ter o mesmo efeito, produzindo algo semelhante a uma overdose. Um exemplo comum são os analgésicos vendidos sem prescrição médica—aspirina, ibuprofeno (Motrin), naproxeno (Aleve) e, em menor extensão, acetaminofeno (Tylenol)—que são usados com afinadores de sangue como a warfarina e o clopidogrel (Plavix). Como os analgésicos também têm efeitos anticoagulativos, a combinação pode resultar em sangramento grave.

Interações com nutrientes. Vários alimentos também podem bloquear ou estimular enzimas que quebram fármacos. Indivíduos que tomam atorvastatina (Lipitor) ou simvastatina (Zocor) com grandes quantidades de suco de grapefruit podem apresentar mialgia e outros efeitos colaterais em consequência de “overdose” de estatinas, uma vez que o suco inibe a enzima que depura as estatinas. Suplementos à base de óleo de peixe podem produzir efeito similar quando ingeridos com warfarina, aumentando o risco de sangramento grave. Os suplementos de ferro podem minimizar os efeitos da levoxitiroxina, medicação usada no tratamento de tireoide hipoativa.

Interações com o corpo. O seu próprio corpo pode reagir aos fármacos de maneira inesperada. Existem múltiplas versões de cada uma das cerca de 50 enzimas CYP450 existentes, e não há nenhuma forma simples e confiável de identificar quais versões você herdou. É possível que você apresente reação a alguns fármacos por quebra-los mais rápido ou mais devagar do que a maioria das pessoas. Do mesmo modo, conforme envelhecemos, tendemos a metabolizar os fármacos mais lentamente, de modo que uma dose menor do que aquela geralmente recomendada pode ser suficiente. A doença renal ou hepática também pode retardar a velocidade com que os fármacos são metabolizados. Por estes motivos, é importante monitorar com cautela a suas reações a qualquer fármaco novo que você tome.

 

Minimizando o risco de interações

 

A Dra. Phansalkar reconhece que é ilusão esperar que memorizemos todas as possíveis interações para cada medicação que tomamos. Por outro lado, as recomendações a seguir podem ser bastante úteis para minimizar problemas:

  1. Saber por que você está tomando cada medicação

Os nomes de fármacos costumam ser difíceis de pronunciar, difíceis de lembrar e fáceis de confundir. Um erro ao listar seus fármacos pode implicar na ocorrência não notada de uma potencial interação. Exemplificando, o Klonopin (nome comercial do clonazepam, usado no tratamento de ataques de pânico) pode ser confundido com a clonidina, uma medicação comumente usada no controle da pressão arterial. Entretanto, se você disser ao farmacêutico ou a um profissional médico que está tomando Klonopin para abaixar a pressão arterial, eles provavelmente saberão que, na verdade, você está tomando clonidina. Considere rotular cada frasco ou caixa de comprimidos com uma descrição do motivo pelo qual você usa a medicação—p. ex., “pressão arterial”.

  1. Saber como tomar o fármaco

É importante saber se a medicação deve ser tomada com alimento ou com o estômago vazio. Exemplificando, ingerir bifosfonato (uma classe de fármacos usados para cessar a perda óssea) com leite, café ou suco, ou comer qualquer coisa dentro de um período de 30 minutos após tomar a medicação anulará seus efeitos. Por outro lado, a melhor forma de tomar alguns fármacos é com alimento, seja por auxiliar a absorção ou prevenir a irritação do revestimento estomacal. E há certos fármacos que não podem ser ingeridos com alimentos específicos. O antibiótico tetraciclina, por exemplo, não deve ser tomado com laticínios, porque o cálcio interfere na absorção do fármaco.

  1. Suspeitar dos suplementos

Algumas das interações medicamentosas mais graves envolvem medicações prescritas e suplementos. Além de os suplementos serem menos propensos a estarem na lista dos bancos de dados de interações medicamentosas, em comparação às medicações aprovadas pelo FDA, também é possível que os profissionais médicos desconheçam os suplementos tomados pelos pacientes. Dada a pouca quantidade de evidências mostrando que os suplementos promovem benefícios à saúde, é melhor evita-los, exceto quando forem prescritos pelo médico.

  1. Limitar o consumo de álcool

Para as mulheres, não é boa ideia consumir mais de um drinque por dia, de modo geral, e pode ser ainda pior beber enquanto se usa medicação. O álcool intensifica a sonolência—um efeito pretendido das pílulas para dormir e um efeito colateral de muitos anti-histamínicos, antidepressivos e ansiolíticos. Em adição, o álcool pode irritar o revestimento do esôfago e do estômago—uma preocupação especial quando se toma aspirina, outros fármacos anti-inflamatórios não esteroides ou um bifosfonato oral para baixa densidade óssea.

Médico Especialista em Fisiatria e Dor | + posts

Médico formado pela Santa Casa de São Paulo, com Residência Médica em Medicina Física e Reabilitação (Fisiatria) pela Universidade de São Paulo. Doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no Departamento de Neurologia. Especialização em Acupuntura Médica pelo Centro de Estudo Integrado de Medicina Chinesa (CEIMEC), e Área de Atuação em Dor pela Universidade de São Paulo. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA). Ex-Diretor do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Membro da Câmara Técnica de Acupuntura do CREMESP. Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).


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